Um veículo elétrico, um comboio e uma bicicleta foram os três meios de transporte utilizados por Jens Ohlemeyer e Tobias Dewald para fazerem o percurso de cerca de 3 mil quilómetros entre a cidade alemã de Bielefeld e a vila de Salir, no concelho de Loulé, em quatro dias, sem qualquer emissão de gases poluentes para a atmosfera.
Os dois professores alemães que integram o projeto europeu “Three4Climate” estiveram na passada 5.ª feira na Escola EBI Prof. Sebastião Teixeira de Salir para falar da experiência e mostrar aos alunos e corpo docente desta comunidade energética escolar que o futuro do Planeta passa, não só, pela mobilidade sustentável, mas também por muitas outras ações do quotidiano que poderão ser decisivas para a meta de neutralidade carbónica até 2050.
No primeiro dia de jornada, ao volante de um veículo elétrico, os dois alemães viajaram até Bordéus, em França, com uma passagem por Bruxelas, o coração da União Europeia, onde deixaram reivindicações dos alunos das escolas do projeto junto dos responsáveis europeus.
No dia 2, o trajeto levou-os até ao território nacional e Braga foi o destino. Nesta cidade, que a par de Loulé é a parceira portuguesa neste projeto internacional, estacionaram o carro elétrico para seguirem até Lisboa de comboio, no terceiro dia desta aventura.
Finalmente, no derradeiro dia – o quarto – foi também esse meio de transporte que utilizaram para fazer o percurso entre a capital e a cidade de Beja. Daí partiram para Salir, vila do interior algarvio, numa bicicleta elétrica.
Uma experiência com alguns obstáculos, como os próprios recordaram, sobretudo em termos da logística do carregamento do veículo elétrico, mas que veio mostrar que é perfeitamente possível viajar, inclusive percorrendo longas distâncias, sem prejudicar o ambiente. “A mobilidade elétrica é uma das tecnologias que devemos, cada vez mais, usar”, sublinha Jens Ohlemeyer, professor de Inglês e de Educação Física em Bielefeld.
A visita destes professores é apenas uma das ações do projeto “Three4Climate”, que arrancou em junho de 2020, e nasceu para promover as atividades climáticas a nível local como apoio à tripresidência do Conselho Europeu encabeçada pela Alemanha, Portugal e Eslovénia. Envolve 6 municípios – Bielefeld, Braga, Maribor, Radolfzell, Loulé e Kranj e 6 escolas, entre as quais a EBI de Salir, um dos estabelecimentos de ensino do País mais implicados nestas matérias da sustentabilidade.
“Three4Climate” assenta fundamentalmente na colaboração entre os diferentes participantes para a descarbonização, na cooperação para a ação climática a nível local, nacional e europeu, e na troca de experiências e partilha de boas práticas no âmbito da neutralidade carbónica.
Como explica o coordenador em Portugal do projeto, Matías García, “o que queremos é promover a coesão dos diferentes níveis de governo, desde o nível local que podem ser municípios ou escolas, passando pelos governos nacionais de cada país até às entidades europeias”. “Temos que agir já e levar as demandas de baixo para cima, promovendo a colaboração entre todos. Aqui mesmo, com este intercâmbio entre os professores destes países, estamos a afinar metodologias para melhor integrar nas escolas a educação para a sustentabilidade, criando parcerias para que isso aconteça”, referiu este responsável.
Esta foi, de resto, uma das mensagens dos dois professores alemães que falaram da necessidade de existir “mais financiamento e mais recursos humanos nas escolas que sejam canalizados para a educação para a sustentabilidade”. A interdisciplinaridade, ou seja, o envolvimento das várias disciplinas nesta matéria, bem como a integração no corpo de docentes das escolas de uma pessoa dedicada a esta área serão determinantes.
Em relação à presença do Município de Loulé e da já premiada Escola EBI de Salir neste projeto internacional, o autarca Vítor Aleixo disse ser “de grande interesse criar diferentes dinâmicas que promovam a mudança de comportamentos em prol da resposta às alterações climáticas”. Até porque, como adiantou, “a política climática está a dar os seus primeiros passos e compreende-se perfeitamente que as comunidades escolares de todo o mundo sejam um dos principais motores para operar políticas para a adaptação à mudança do clima”. Em Salir, reafirmou a sua posição quanto a esta matéria premente que passa pelo envolvimento urgente de toda a sociedade – escolas, empresas, famílias, instituições públicas: “Já estamos muito atrasados, tem que haver uma mobilização geral para enfrentarmos este que é o maior problema com que a Humanidade alguma vez se confrontou!”.
Considerando precisamente essa implicação de todos, os professores Jens Ohlemeyer e Tobias Dewald reforçaram que faz todo o sentido integrar a defesa ambiental como um direito fundamental que deve ser assegurado pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, situação que não se verifica presentemente. “Todas as pessoas, sobretudo os jovens, têm o direito a reclamar os seus direitos para um ambiente preservado e protegido no futuro. Uma empresa poderá, pois, ser processada por não cumprir esse direito. Podemos apagar as luzes quando saímos de um quarto, podemos fazer a reciclagem, evitar o plástico, mas isso não é suficiente. Também temos que fazer chegar essas exigências junto dos políticos e do poder económico”, observou ainda o professor Jens Ohlemeyer.