Como manter a atenção de uma plateia durante 45 minutos num mundo dominado pela brevidade e volatilidade? Foi esta a questão que impulsionou Fernando Nogueira, artista de circo, a desenvolver a sua mais recente criação, 'Rastros'. O espetáculo, que explora a arte do mastro chinês, estreia-se no dia 18 de novembro, às 21h30, no Cineteatro António Lamoso (CTAL), em Santa Maria da Feira, e é uma das propostas do evento La Nuit du Cirque, que conecta diversas localidades europeias em celebração das artes circenses.
De 17 a 19 de novembro, a rede La Nuit du Cirque promove a inclusão do circo na programação de teatros por toda a Europa, e o CTAL adere a esta celebração com 'Rastros', onde a técnica do mastro chinês, especialidade de Fernando Nogueira, é a protagonista. A "Noite do Circo" no CTAL, realizada em parceria com o Centro Cultural de Paredes de Coura (CCPC), destaca-se como uma iniciativa de apoio à inovação no circo contemporâneo.
A obra nasceu de um intenso período de residência artística no CTAL, sob a direção de Rui Paixão, Vitor Fontes, Rina Marques e Magda Henriques. Posteriormente, o artista prosseguiu o seu trabalho no CCPC, onde finaliza a peça que será também apresentada a 17 e 18 de novembro (CCPC e CTAL, respetivamente), e adaptada para apresentações ao ar livre em maio do ano seguinte, nos festivais Imaginarius e Mundo ao Contrário.
Fernando Nogueira, formado pelo INAC – Instituto Nacional de Artes Circenses, vê no mastro chinês uma estrutura narrativa que equilibra tradição e modernidade, rigidez e adaptabilidade. 'Rastros' é uma reflexão sobre tradições e introspecções, sobre o que se perde na rapidez do tempo atual, com o mastro como símbolo físico destas temáticas.
Após um processo criativo desafiante no CTAL, é no CCPC que Nogueira refina a dramaturgia e estética de 'Rastros', um espetáculo descrito como uma "comédia dramática, absurda e visual", que propõe uma valsa entre tradição e transformação, num intenso e visceral tributo à humanidade.
O enredo gira em torno de um indivíduo excêntrico que, na busca por preservar a sua unicidade, se isola das modernidades invasivas. Contudo, este isolamento é posto à prova por elementos disruptivos que desafiam a sua bolha de tradição.
Recorrendo ao mastro chinês e à encenação de figuras misteriosas, 'Rastros' confronta o protagonista com o embate entre o passado e o presente. É uma meditação artística sobre a persistência das tradições num tempo de incessante mudança, convidando o público a uma dança reflexiva sobre a existência.