A Biblioteca Municipal do Cadaval acolheu, a 27 de novembro, o lançamento do novo livro de Helena Silva, mais uma autora do Concelho. Nascida em Timor-Leste, a romancista reside e tem raízes na freguesia do Peral. Este seu último trabalho revela uma crítica social e ideológica a acontecimentos históricos, numa obra de ficção que promete prender a atenção do leitor.
Na abertura do encontro, Dinis Duarte, relevava que, no dia seguinte ao lançamento, a 28 de novembro, cumprir-se-iam os 46 anos da proclamação unilateral da independência de Timor-Leste. «Daí termos aberto esta sessão com esta música [“Timor”, Luís Represas] para que não nos esqueçamos de evocar uma data que é obviamente importante», referiu. «Não queríamos deixar passar em claro esta oportunidade de assinalar este facto, tendo aqui ilustres timorenses».
«É com todo o gosto que acolhemos o lançamento do livro “Trilhos Incertos”, agradecendo à Helena Silva ter escolhido a Biblioteca Municipal do Cadaval para fazer este lançamento», declarou o edil.
«Estamos sempre recetivos a apresentar quer sejam livros quer sejam exposições de arte, e temo-lo feito com frequência. E obviamente, quando se trata de alguém que vive no Concelho e que tem também cá raízes, através da mãe, mais satisfação nos dá», disse.
«Somos um concelho pequeno, mas é sempre bom perceber que, sendo poucos, temos muito bons autores. É sempre com agrado que constatamos esse facto», acrescentou.
Coube a Daniel Braga, professor de ensino secundário e divulgador de autores lusófonos, fazer a apresentação do livro de Helena Silva.
Daniel Braga começou por enaltecer a presença de Luís Costa, professor universitário e defensor da causa timorense. Entre diversas funções e atividades exercidas, é autor do dicionário tétum-português (2000). É também irmão do autor do hino de Timor Leste, “Pátria”, Francisco Borja da Costa, assassinado em 1975 pelas forças indonésias, aquando da invasão de Timor-Leste.
«Une-nos o facto de sermos naturais de Timor-Leste, um país de que nós gostamos. Defendemos sempre, com muito amor, a nossa pátria e a nossa terra. Eu costumo dizer que sou um homem feliz porque tenho duas pátrias, Portugal e Timor», afirmou Daniel Braga.
Referindo-se ao último trabalho literário de Helena Silva, define-o como «uma obra de suspense, de movimento contido».
«É uma história com vários momentos, de suspense, mistério, enigmas, paixões, descobertas e que acima de tudo tem, como em todas as outras obras da Helena, uma crítica social permanente e visível», avança Daniel.
«A Helena, no fundo, faz uma analogia com os movimentos de ditadura, de incompreensão, de não-liberdade». Para tanto, contrapõe «algumas personagens que defendem essa não-liberdade e outras que lutam contra essa permanência na penumbra», acrescentou.
Por seu turno, Helena Silva explicou tratar-se, o seu mais recente livro, de um projeto que ela foi maturando durante algum tempo. «Quando se deu a pandemia, resolvi pô-lo em prática, transformando o projeto em livro. Demorou algum tempo, sem dúvida, mas lá consegui», conta.
«Trata-se da história de um escritor que tem uma ideologia muito vincada e que decide tirar umas férias fora do país», relata a escritora.
«Tudo gira à volta dessa viagem que ele faz, e quando ele faz a sua viagem de regresso acontecem uma série de peripécias que alteram completamente o seu rumo, fazendo-o enveredar por outros caminhos. A partir daí, consegue conhecer novas pessoas, novos pensamentos e novas maneiras de agir», prossegue Helena Silva.
«Não se trata só de abordar a luta entre o bem e o mal, mas sim uma questão social e ideológica que eu pretendo comentar, pelas diversas personagens que fazem parte do livro», disse. «Esse escritor conheceu várias personagens, principalmente uma jovem, que o faz questionar as suas próprias convicções».
«É uma crítica social, sim, mas também uma crítica ideológica, um questionar ideológico do personagem principal perante as diversas manifestações/opiniões dos diversos personagens», conclui.
Nota biográfica de Helena Silva
Apesar de ter nascido em Timor-Leste, em 1962, as raízes de Helena Silva (da parte da mãe) são do Peral, concelho do Cadaval.
«Fiz a minha primeira classe na escola primária do Peral e sempre passei as minhas férias (ou parte delas) entre o Peral e os Casais do Peral», conta, adiantando que é nessas aldeias que lhe surge o amor pela escrita.
«A serenidade, a paisagem e as gentes são uma fonte de inspiração. Tal como sinto uma ligação muito forte a Timor-Leste, o concelho do Cadaval está-me no sangue», sublinha a escritora.
Foi atleta durante toda a sua juventude, tendo sofrido várias lesões que a viriam a condicionar. Dedicou-se à escrita desde muito cedo, mas só depois de se reformar da função pública viria a retomar esta sua forma de arte.
Depois de ter abraçado a poesia como uma paixão, participou em alguns concursos nos E.U.A., obtendo três distinções "Editor's Choice 2007", cujos textos seriam publicados na coletânea "Immortal Verses".
Em 2011, publicou o seu primeiro livro de poesia, intitulado "Do Outro Lado". Em 2012, segue-se "Véus/Veils" (em português e inglês), com poesia dedicada à Luta pelos Direitos da Mulher. Em 2013, publicou um e-book intitulado "O Voo de Íris" e a sua primeira novela, "Tobias e as Águas Claras".
Em 2019, publica outro e-book, "Os Crocodilos Têm Memória", conto dedicado à sua terra natal, Timor-Leste, bem como o livro de poesia "Noites Brancas".