O Luísa Todi CantoFest – Festival Internacional de Ópera de Setúbal é um exemplo da cidade e da cultura a servirem-se mutuamente, disse na segunda-feira a vereadora da Câmara Municipal Rita Carvalho, na apresentação do evento, que decorre até domingo.
Agora denominado Luísa Todi CantoFest, em homenagem à que é considerada a maior cantora lírica portuguesa de sempre, a quarta edição, segunda presencial depois de as duas anteriores terem decorrido online devido à pandemia de covid-19, decorre em Setúbal entre 16 e 24 de julho, com quatro concertos agendados, um dos quais gratuito no Largo da Ribeira Velha, em plena Baixa da cidade.
“O festival traz a cultura para o espaço público, apropria-se do espaço público, e esta também é uma das formas de a cidade fazer cultura, de ser mais inclusiva, mais integrada, porque é a cidade a servir a cultura e a cultura a servir a cidade. A programação serve-se do espaço público de forma transversal, na perspetiva de divulgação cultural e do seu património de forma arrojada e inovadora”, considerou a vereadora.
Organizado desde 2019 pela Câmara Municipal de Setúbal e pela Grand Stage International Arts Foundation, o festival conta com concertos agendados para entre os dias 20 e 23 de julho, no Fórum Municipal Luísa Todi, na igreja do Convento de Jesus e no Largo da Ribeira Velha.
Rita Carvalho disse que o festival teve de se reinventar num modelo online devido à covid-19 e “é uma grande felicidade para todos” que este ano já se possa acolhê-lo “nos seus moldes originais”.
Depois de ter agradecido à Grand Stage International Arts Foundation por ter reconhecido em Setúbal “o território com as condições para acolher este evento”, sublinhou que a adoção do nome de Luísa Todi “também é um reconhecimento do festival à cidade”.
Ex-aluno de Olga Makarina, diretora da Grand Stage International Arts Foundation, o cantor lírico setubalense Marcos Santos, que tem feito a ligação entre a autarquia e a fundação, recordou que foi a soprano russo-americana quem “lançou o desafio de fazer um festival de ópera em Portugal” e agradeceu o apoio que a Câmara Municipal de Setúbal deu ao evento desde o primeiro dia.
“Este é um festival que traz cantores de todo o mundo, que são previamente selecionados para virem ter aulas de canto com professores. Têm aulas de técnica, aulas de repertório, aulas de cena e depois fazem espetáculos na cidade de Setúbal”, referiu, adiantando que este ano há alunos de Portugal, Sérvia, Estados Unidos da América, Japão, Roménia, Rússia e Ucrânia.
A japonesa Yuina Honda, a ucraniana Alyona Guz e o russo Andrei Danilov, estes dois casados, são alguns desses alunos – estudantes de música e cantores profissionais ou semiprofissionais – e atuaram ao fim da tarde de segunda-feira no salão nobre dos Paços do Concelho, durante a conferência de imprensa de apresentação do evento.
Alyona Guz e Andrei Danilov começaram por cantar a solo duas canções ucranianas, tendo Alyona Guz não resistido às emoções no final da sua atuação.
Depois de recordar que “havia problemas que chegassem no mundo” quando as duas anteriores edições do festival foram canceladas na vertente presencial, Olga Makarina sublinhou que, quando estava a ser planeada a deste ano, “começou uma guerra horrível no coração da Europa”.
“É tão horrível… A nossa missão é trazer a beleza. Somos músicos, a única coisa que podemos fazer em tempos horríveis é falar a língua da beleza. Hoje apresentámos aquelas músicas no início porque temos de honrar a tragédia que decorre e, ao mesmo tempo, queremos mostrar que o mundo é tão grande, mas estamos aqui, estamos todos juntos e falamos a bela e maravilhosa língua da música”, disse.
Desejando que, juntos em Setúbal, os cantores líricos possam “trazer algumas gotas de beleza ao mundo”, Olga Makarina considerou, no entanto, que é possível falar acerca da guerra na música. “Podemos matar, envenenar ou enviar alguém para a prisão, mas é apenas música, é a fazer de conta. São coisas que devem ficar-se pelo palco.”
A soprano agradeceu a Setúbal, que tem um público “fabuloso”, por acolher o festival, classificando a cidade como “incrivelmente bela” e com “uma comida tão requintada” que deixa os músicos “ansiosos” pelo regresso.
“Vai ser só uma semana, mas sei que, quando formos embora, vamos para casa tristes, porque esta é a casa do festival e espero que voltemos outra vez e outra e outra, para as edições números cinco, seis, sete, sem saltar números”, concluiu.
Em 20 de julho, quarta-feira, o Fórum Municipal Luísa Todi recebe uma gala de ópera às 21h00, para no dia 22, sexta-feira, haver um concerto na Igreja do Convento de Jesus, às 21h00, e a 23, sábado, outro na Igreja do Convento de Jesus, às 11h30, e um último no Largo da Ribeira Velha, às 21h00.
O espetáculo da manhã de dia 23 é um concerto pedagógico, no qual a ária interpretada é contextualizada através de uma explicação ao público acerca da obra de onde foi retirada e do seu significado.
Os bilhetes para os concertos no Fórum Municipal Luísa Todi e na Igreja do Convento de Jesus têm o preço de 5 euros e estão disponíveis no Fórum Municipal Luísa Todi e no Museu de Setúbal/Convento de Jesus.
O programa do festival inclui, desde 16 de julho, sessões masterclass, nas quais cerca de uma dúzia de estudantes do ensino superior de música e profissionais da área, na maioria estrangeiros, vão aperfeiçoar as respetivas técnicas.
Os professores são Olga Makarina, fundadora da Grand Stage Internacional Arts Foundation e cantora residente da The Metropolitan Opera, Vlad Iftinca, também da The Metropolitan Opera, Ugo Mahieux, da Ópera de Paris, Adi Bar Soria, maestro e pianista israelita vencedor de vários prémios internacionais que o levaram a atuar em salas como Gewandhaus Leipzig, Berlin Philharmonie e o Alte Oper Frankfurt, e a cantora luso-romena Liliana Bizineche e Marcos Santos, ambos da Universidade de Évora.