A secular Festa das Cruzes foi candidatada na passada quinta-feira, 18 de maio, no Dia da Ascensão, pela Câmara Municipal de Tondela ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.
O anúncio da apresentação da candidatura foi feito, ontem dia 20, pela presidente da autarquia, Carla Antunes Borges, durante as celebrações daquela que é uma das maiores e mais antigas manifestações religiosas do concelho, realizada anualmente no Guardão, e que atraiu nesta edição de 2023 largas centenas de pessoas.
Recordando que há um ano a autarquia já tinha revelado a intenção de avançar com a candidatura com vista “ao registo e reconhecimento” desta manifestação de fé com mais de 300 anos, e que é obrigação do município “defender, cuidar e preservar” o seu património, Carla Antunes Borges anunciou, com regozijo, a submissão da candidatura da Festa das Cruzes a património imaterial.
“Esta é uma festa que temos obrigação de cuidar e preservar, queremos que seja uma festa de todos, uma festa nacional e, por isso, é com regozijo que hoje aqui vos transmito que na quinta-feira [Dia da Ascensão] tivemos a oportunidade de apresentar o pedido de inscrição desta importante festa no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial”, referiu.
“Se este registo nos for concedido a Festa das Cruzes será elevada a um patamar nacional e esta era uma obrigação do Município de Tondela. Passará a ser uma festa registada a par de outras manifestações religiosas existentes no país”, acrescentou.
Já o padre António Ferreira Duarte, pároco do Guardão, agradeceu esta iniciativa levada a cabo pela Câmara Municipal e enalteceu a ajuda do poder local “nesta caminhada”.
O sacerdote disse ainda que a candidatura a património imaterial vem engradecer um evento religioso que os crentes têm mantido vivo ao longo dos séculos e que nesta edição teve uma das maiores adesões em termos de público nos últimos anos.
A história
A Festa das Cruzes acontece há mais de 300 anos juntando as povoações de Castelões, Santiago de Besteiros e Campo de Besteiros, povos que anualmente, por altura da Ascensão, sobem à serra, juntando-se aos habitantes do Guardão, para cumprir “a promessa antiga” de agradecimento à Nossa Senhora dos Milagres pela sua ajuda na expulsão dos mouros.
Com cruzes, engalanadas com grinaldas, motivos vegetais, como flores ou frutos e legumes da época, metais preciosos, como ouro, e pérolas, ladeadas por lanternas, os féis das três freguesias percorrem o mesmo itinerário ancestral, da Capela de São Bartolomeu até ao Guardão, ao som de ladainhas, para o abraço das suas cruzes com as da freguesia anfitriã, sob uma chuva de pétalas de flores.
A singularidade desta manifestação reside no momento em que as cruzes se tocam, duas a duas, repetindo o abraço do “tempo da memória”, em que o povo se abraçou por ter conseguido, com ajuda divina, expulsar os mouros.
A cerimónia ritual acontece no marco do encontro, um local na calçada já gasta pela repetição desta tradição ao longo dos séculos. Após o abraço, acontece uma eucaristia, que culmina com uma bênção dosa campos e um grande desfile em que participam as cruzes das quatro paróquias e largas centenas de romeiros oriundos das localidades envolvidas no ritual, mas também dos mais recônditos recantos serranos e de outras terras da região.
A Festa das Cruzes realizava-se tradicionalmente na quinta-feira de Ascensão (40 dias depois da Páscoa), tendo passado em 2022 a acontecer no sábado seguinte para que mais pessoas pudessem participar no evento religioso.