Uma estátua de Nossa Senhora do Rosário de Troia, padroeira da comunidade piscatória de Setúbal, foi inaugurada ontem à tarde no molhe poente da doca dos pescadores.
A peça escultórica em mármore branco, com mais de dois metros de altura, concebida por Hans Varela, está assente num altar em forma de um barco, com a proa apontada para a capela de Nossa Senhora do Rosário de Troia, que se encontra do outro lado do rio, na Caldeira.
“Quando os pescadores partiam ou chegavam à doca olhavam para a capela em Troia. Mas agora têm-na aqui e podem fazer as suas orações, pedir que ela os acompanhe na ida para o mar ou agradecer-lhe a proteção”, conta Armando Oliveira, diretor nacional do Apostolado do Mar e presidente da Comissão de Festas de Nossa Senhora do Rosário de Troia.
Há muito que os marítimos desejavam ter uma estátua e um local de culto à santa padroeira em Setúbal. A APSS – Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra correspondeu ao pedido, com a cedência do espaço no molhe poente da doca dos pescadores e o financiamento do altar e da imagem.
“Fazemos esta homenagem a Nossa Senhora do Rosário de Troia para garantir algum conforto aos pescadores e a todas as pessoas do mar que entram neste porto”, sublinhou o presidente do Conselho de Administração da APSS, José Castel-Branco.
Além de ter em conta a devoção dos pescadores, que “é muito grande, pois enfrentam grandes perigos e dificuldades na faina”, a APSS considera que esta é também “uma forma de se associar à comunidade setubalense e à cidade com a entrega de um espaço a todos os que precisam de momentos de paz, de conforto e de sossego”.
A cerimónia de inauguração da imagem contou com a presença da vereadora Carla Guerreiro, que enalteceu a construção desta estátua em Setúbal, ao colocar Nossa Senhora de Troia mais próxima da comunidade piscatória setubalense.
“Nossa Senhora de Troia é uma guia dos pescadores. A comunidade piscatória tem esta adoração à santa, com o ponto alto nas festas, mas no dia a dia ela está sempre presente. Eles precisavam disto, pois esta é uma profissão de muitas inseguranças e a crença ajuda-os muito.”
A estátua foi feita em estreita colaboração com a Comissão de Festas de Nossa Senhora do Rosário de Troia e o Departamento de Arte Sacra da Diocese de Setúbal, para que ficasse “o mais fiel possível à imagem que os pescadores e a Igreja pretendiam”, indicou Armando Oliveira.
Para o bispo de Setúbal, José Ornelas, que procedeu à bênção da imagem, esta é uma forma de “testemunhar a fé da cidade e de fazer justiça à história de Setúbal, desde sempre ligada ao mar que moldou a força e a arte das gentes”.
A devoção dos pescadores setubalenses a Nossa Senhora do Rosário de Troia motiva a realização de festividades em honra da padroeira, anualmente, no mês de agosto, com diversas atividades religiosas e de lazer, repartidas entre Setúbal e a Caldeira.
O evento decorre há cerca de cem anos, mas os primeiros registos da devoção na Caldeira de Troia datam de há perto de quinhentos anos.
A adoração a Nossa Senhora do Rosário de Troia tem origem numa lenda em que um grupo de pescadores, durante um período de aflição no decurso de uma tempestade, conseguiu ficar a salvo ao encontrar abrigo na Caldeira.
Aí, os marítimos descobriram uma imagem de madeira nas margens, alegadamente proveniente de uma embarcação estrangeira, o que os fez acreditar que foram salvos por ela.