Centenas de cravos cobriram o palco do Cineteatro Louletano para a comemoração do 50.º aniversário do 25 de Abril, promovida pela Assembleia Municipal de Loulé. O evento, realizado na manhã de quinta-feira, teve como lema “Herança e Projeto”. A escritora louletana Lídia Jorge foi a convidada de honra, refletindo sobre o país meio século após a Revolução.
Lídia Jorge, autora de "Os Memoráveis", destacou a injustiça de relacionar o 25 de Abril com as insuficiências atuais. “Vivíamos num país quase medieval”, lembrou, acrescentando que “50 anos ainda não é muito para recuperar o que se perdeu até 1974”. Apontou as atuais falhas do contexto internacional e ressaltou a importância da revolução como “protótipo de mais de 60 revoluções e mudanças de regime pelo mundo”.
O evento foi celebrado em vários lugares do globo. No entanto, Lídia Jorge alertou para a ascensão da extrema-direita e um “movimento de anti-democratização”, ligando-o às guerras atuais. A escritora também abordou a falha do modelo económico contemporâneo, resultando em “tragédia da injustiça social”. “Este modelo económico precisa de ser alterado para proporcionar casa, comida e conforto para todos”, afirmou. Enfatizou ainda a necessidade de admiração mútua, chamando a atenção para a "tribalização da sociedade".
O presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, homenageou os Capitães de Abril e o povo português que consolidou a democracia. Destacou as ações municipais para materializar os ideais de Abril, nomeadamente nas áreas da habitação e do desenvolvimento do interior. Entre os destaques, 51 fogos dispersos foram adquiridos por 7,7 milhões de euros, e 13 lotes de terrenos por 4,2 milhões de euros, realojando 53 agregados familiares. Além disso, 691 pessoas são apoiadas pelo Subsídio Municipal ao Arrendamento, e 94 fogos estão em construção, com outros 51 em fase de projeto.
O interior de Loulé beneficiará de cobertura digital e do Geoparque Algarvensis, cujo dossier de candidatura será entregue na UNESCO em novembro.
O presidente da Assembleia Municipal, Carlos Silva Gomes, fez um balanço das atividades, sublinhando a importância da participação para o sucesso da democracia. Mencionou o processo de revisão do PDM, o mais participativo na história de Loulé, envolvendo autarcas, técnicos e associações. A Assembleia Municipal Jovem, realizada a 23 de abril, foi destacada como uma iniciativa para reforçar os valores de Abril entre os jovens, garantindo que "veio para ficar".
As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril em Loulé começaram na noite do dia 24, com uma análise de “Os Memoráveis” de Lídia Jorge, feita por Carlos Reis, da Universidade de Coimbra, e uma interpretação teatral dos grupos Mákina de Cena e Ao Luar Teatro. Além disso, a música de Abril marcou presença, com o Grupo Coral “Vozes da Liberdade”, o Grupo Coral Infantil de Loulé, o Grupo Coral de Quarteira e Sérgio Godinho, em concerto no centro de Loulé, onde assistiram milhares de pessoas.