O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, esteve esta tarde em Setúbal, na Casa das Imagens Lauro António – Biblioteca, Mediateca e Arquivo, em visita para homenagear o cineasta e crítico cinematográfico falecido recentemente.
O chefe de Estado, recebido pelo presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Martins, em comitiva com vereadores do município, teve oportunidade de conhecer o equipamento municipal instalado no número 8 da Rua da Velha Alfândega, contíguo à Biblioteca Pública Municipal de Setúbal.
“Isto está muito bem organizado. São anos e anos de recolha. Decididamente, Lauro António era um pedagogo”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, ainda no piso térreo da Casa das Imagens, na qual está disponível a zona de biblioteca, com mais de dez mil obras literárias para consulta.
O presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Martins, fala numa tarde cultural na cidade setubalense, a qual, graças à presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, se revestiu de particular importância para divulgar a Casa das Imagens Lauro António – Biblioteca, Mediateca e Arquivo.
“Esta visita é também uma forma de promover esta riqueza e este património que foi legado pelo autor a Setúbal e que nós estamos, naturalmente, muito empenhados em preservar e a divulgar esta obra a de um homem que se dedicou ao cinema e ao audiovisual, ou seja, a cultura.”
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sublinhou que esta é “uma homenagem muito justa, feita em tempo, a Lauro António, um homem que durante toda a vida procurou transmitir aos outros tudo aquilo que podia recolher, aprender, aprofundar e estudar a história do cinema”.
O filho de Lauro António, Frederico Corado, conduziu a visita à Casa das Imagens Lauro António – Biblioteca, Mediateca e Arquivo para revelar aspetos mais pessoais do acervo doado a Setúbal pelo cineasta e crítico cinematográfico, o qual é composto por cerca de 50 mil peças, em diferentes conteúdos, relacionados com o audiovisual.
A biblioteca possui publicações de cinema, audiovisuais e televisão, assim como de banda desenhada e cartoons, revistas especializadas de cinematografia, enciclopédias gerais e obras generalistas. “Fundamental era digitalizar tudo isto, para que não se perdesse nenhuma destas relíquias.”
No edifício, requalificado pela autarquia setubalense para receber o acervo doado por Lauro António ao município no qual mantinha, há largos anos, intensa colaboração, nomeadamente masterclasses da história do cinema, estão cerca de 50 mil peças, em diferentes conteúdos, relacionadas audiovisuais.
Entre cartazes de filmes e festivais de cinema que partilham diferentes momentos da história e de uma vida de paixão pela sétima arte, a área dedicada à longa-metragem “Manhã Submersa”, realizada por Lauro António e estreada no Festival de Cannes de 1980, captou o particular interesse do Presidente da República.
“É uma Olivetti?”, questionou Marcelo Rebelo de Sousa, ao apontar para a máquina de escrever usada por Lauro António para datilografar “Manhã Submersa”. Ao lado, o tripé utilizado na rodagem do mesmo filme que o tornou particularmente conhecido na esfera da realização cinematográfica.
Entre as várias peças expostas, contam-se alguns dos inúmeros prémios que Lauro António recebeu ao longo da carreira, a par da placa exterior do Cinema Condes, um anúncio luminoso do Cinema de Cascais, a placa de saída do Cinema Odéon e a coleção de Bonecos de Estremoz.
A visita de Marcelo Rebelo de Sousa à Casa das Imagens, equipamento que perpetua memórias e partilha o imenso conhecimento compilado por Lauro António, falecido a 3 de fevereiro deste ano, ao longo de uma vida, também despertou recordações do próprio Presidente da República.
“O Estúdio Apolo 70! Lembro-me de lá ir com o meu filho”, partilhou o chefe de Estado, enquanto vislumbrava uma seção dedicada àquela antiga sala de cinema lisboeta, passando em revista diversos conteúdos como cartazes e programas de sala que estão expostos no segundo piso.
No piso superior da Casa das Imagens está também a zona de mediateca, com uma coleção de filmes com 1500 cassetes VHS e dez mil DVD e Blu-Ray, além de CD, discos em vinil, cassetes-áudio, cartazes, fotografias e material publicitário de filmes. “É de uma imaginação tremenda”, elogiou.
Sobre esta secção da Casa das Imagens, Frederico Corado, acrescentou. “E o material que ainda está lá para casa. Seguramente, mais do dobro dos DVD. Vamos ver se ainda vamos conseguir espaço”, disse, ao olhar em redor da sala que pode ser utilizada pela população para, mediante marcação, assistir a um filme.
“A vida dele [Lauro António] foi muito rica. Era um conversador e, pelos vistos, um colecionador. Também herdou essa faceta do seu pai?” A resposta, afirmativa, de Federico Corado a Marcelo Rebelo de Sousa foi perentória e motivou risos. “É uma paixão que motiva um drama familiar.”
Na visita à Casa das Imagens, o Presidente da República assistiu ainda ao filme “A Grande Ilusão”, de 1937, de Jean Renoir, sobre dois soldados franceses capturados durante a I Guerra Mundial e que, após várias tentativas de fuga do campo de prisioneiros, são enviados para uma fortaleza.
Na sessão de cinematográfica dinamizada no âmbito do ciclo A Sala Estúdio Apolo 70, a decorrer até abril na Casa das Imagens com grandes obras do cinema mundial estreadas naquele cinema lisboeta, Marcelo Rebelo de Sousa teve a companhia da viúva de Lauro António, Maria Eduarda dos Reis Colares.
Depois do filme, Marcelo Rebelo de Sousa assinou o livro de honra da Casa das Imagens Lauro António – Biblioteca, Mediateca e Arquivo, equipamento municipal de portas abertas ao público desde maio do ano passado e que funciona de segunda a sexta-feira, das 10h00 às 18h00 e aos sábados das 14h00 às 18h00.
Da Casa das Imagens, Marcelo Rebelo de Sousa levou boas recordações e, também, ofertas concretamente o filme “Manhã Submersa” e o livro “Alguns Momentos-Chave do Filme Negro Norte-Americano”, assim como um quadro com uma pintura a retratar a cidade e a baía setubalense.
O equipamento tem por missão a recolha, proteção, preservação, divulgação e dinamização do património audiovisual, promovendo a construção do conhecimento e, em simultâneo, afirma-se como espaço de fruição do cinema e do audiovisual, nas suas múltiplas vertentes.
Lauro António, falecido aos 79 anos, desenvolvia há quase uma década intensa colaboração cultural com Setúbal, com destaque para mais de quatro centenas de masterclasses no Fórum Luísa Todi para partilhar a história do cinema, incluindo a mais recente, intitulada “Filmes que Eu Amo”, com uma seleção muito pessoal.