A designer e ilustradora Marta Madureira, em foco na sétima edição do certame organizado pela Câmara Municipal de Setúbal, apresenta um conjunto de trabalhos, em diferentes técnicas e suportes, produzidos ao longo de vinte anos de carreira criativa.
“Revelam um pouco da minha evolução enquanto artista”, afirmou, na apresentação da mostra “A Vida das Coisas (e ainda algumas coisas da vida)”, preparada em exclusivo para a Festa da Ilustração, patente na Galeria de Exposições da Casa da Cultura até 28 de novembro.
Ilustrações editoriais, sobretudo para livros infantis, incursões na vertente de packaging¸ concretamente criações para rótulos de garrafas e conservas, a par de cartazes e trabalhos mais experimentais e de cariz pessoal, podem ser apreciados na mostra.
“Estou muito ligada ao livro infantil. Aliás, o livro é o meu suporte privilegiado”, partilhou Marta Madureira, com um estilo gráfico “adaptado às diferentes criações”, entre as quais os cartazes, que lhe despertam particular prazer. “Gosto muito porque permite que a lustração cresça e que entre nos entre pelos olhos.”
Esta exposição de Marta Madureira conta também um conjunto de obras de cariz experimental, que partilham uma vertente mais pessoal da designer e ilustradora. “É uma arquitetura mais intimista, mais inusitada, com recortes por camadas e com muitas texturas.”
Em destaque na Casa da Cultura está ainda o artista canadiano Pierre Pratt, o convidado estrangeiro desta edição da festa, com a mostra “É Tudo Isto (e nada disto o que tinha a dizer)”, disponível no Espaço Ilustração, inaugurada igualmente esta tarde e que pode ser visitada pelo público até 28 de novembro.
O título da exposição é de uma frase do escritor e pensador português Mário Dionísio, a qual, de acordo com Pierre Pratt, “resume na perfeição” o conjunto de diferentes trabalhos que apresenta em Setúbal, representativos da aproximação do artista canadiano a Portugal, país no qual vive há catorze anos.
“Sou uma pessoa contraditória, que toca em tudo mas sem fazer nada muito bem”, caracterizou-se, em jeito descontraído, o ilustrador, que trabalha, sobretudo, para livros infantis e de adultos, mas que se aventura noutros suportes. “Quero fazer uma banda desenhada. Já a comecei. Acabá-la, não sei quando.”
Pierre Pratt gosta de “contar histórias pelos desenhos” e, entre os vários registos ilustrados que trouxe, apontou para um conjunto de figuras humanas, criadas a preto e branco. “Neste tipo de trabalhos começo sempre pelo nariz, apesar de nunca saber o que dali vai sair.”
Sobre a Festa da Ilustração, o autor canadiano confessou que nunca viu nada assim. “Na minha terra, não há nada disto. Estou completamente honrado por estar aqui e mostrar as minhas coisas. É um evento muito humano, feito de e para pessoas apaixonadas pela ilustração.”
Para o vereador da Cultura da Câmara Municipal de Setúbal, Pedro Pina, a Festa da Ilustração constitui “um momento de liberdade de expressão e um bastião de resistência dos artistas, que, em vários espaços da cidade, têm oportunidade de se mostrar e causar inquietação de pensamento no público”.
O autarca reforçou que esta sétima edição é “particularmente especial”, uma vez que acontece num período menos conturbado da pandemia de covid-19, e vincou que a Festa da Ilustração “será sempre uma marca em Setúbal, cidade que acredita no trabalho artístico e nos artistas”.
José Teófilo Duarte, do atelier DDLX e curador do evento juntamente com o designer Jorge Silva, realçou que a Festa da Ilustração “procura vir sempre acompanhada de novidades e surpresas para despertar a curiosidade e a cultura intelectual nos diferentes públicos”.
Esta tarde, foram inauguradas mais três exposições do programa 2021 da Festa da Ilustração.
Na Casa das Imagens, até 6 de novembro, há “Desenhos em Cena”, um conjunto de ilustrações criadas por Lauro António, que, segundo o próprio, “testemunham alguns ensaios de procurar um caminho de um espírito irrequieto”.
Já o ilustrador José Brandão, convidado especial desta edição, está a ocupar, desde esta tarde, a Galeria da Casa d’Avenida com a mostra “O Desenho Ideia”, com trabalhos relacionados com capas de discos da sua autoria, com particular destaque para “Coro dos Tribunais”, de José Afonso.
Associado a esta exposição, patente até 31 de outubro, está a reedição dos onze álbuns de José Afonso lançados originalmente entre 1968 e 1981 e indisponíveis no mercado há vários anos, cuja cerimónia vai acontecer em Setúbal, em novembro.
Igualmente na Casa d’Avenida, no segundo andar, é exibida a mostra “Ir e Vir e Voltar com os Livros”, disponível até 31 de outubro, enquadrada no Programa Municipal de Educação pela Arte e Ciências Experimentais, com alguns dos exemplares ilustrados que percorrem as escolas do concelho e que inspiram ateliers.
A inauguração de exposições da Festa da Ilustração continua no dia 8, às 19h00, na Casa do Largo, com a abertura de “Futurando”, em formato mais reduzido, com trabalhos de escolas superiores de artes selecionados por alunos e professores, os quais podem ser apreciados até 28 de novembro.
Dia 9, às 16h00, a Livraria Culsete revela “Vírus”, de André Ruivo, um conjunto de reflexões sobre a pandemia, patente até 31 de outubro.
Além da exposição “Vírus”, André Ruivo apresenta, a 17 de novembro, igualmente na Culsete, o livro com o título homónimo que compila as criações do ilustrador realizadas durante os períodos de confinamento motivados pela pandemia de covid-19.
Ainda no dia 9, às 17h00, a Casa Bocage inaugura “Sai do Meu Filme”, com trabalhos de Tiago Manuel, patente até 30 de outubro.
A artista contemporânea Marta Madureira, além da mostra principal na Casa da Cultura, ilustra a Biblioteca de Azeitão com “Páginas de um Livro”. A mostra, que abre às 11h00 de dia 15 de outubro, mantém-se até 30 de dezembro.
Já no dia 16, a partir das 15h00, o espaço A Gráfica – Centro de Criação Artística recebe as mostras “Ilustração Portuguesa”, a qual conta, entre outros, com trabalhos de André Carrilho e de Nicolau, “Ver ao Perto” e “Ilustração de Espetáculo – FOmE no MAPS”, todas patentes até 14 de novembro.
Novidade no programa da Festa da Ilustração é a inclusão da mostra “Preto no Branco”, no Museu do Trabalho Michel Giacometti, de homenagem a Vasco, ilustrador falecido em julho deste ano. A exposição, que abre às 16h30 de 16 de outubro, fica patente até 28 de novembro.
Também a 16 de outubro dia, às 18h00, na Galeria Municipal do 11, é inaugurada uma mostra de trabalhos do ilustrador veterano João Carlos Celestino Gomes que fica patente até 27 de novembro.
O conjunto de exposições do certame fica completo com a abertura, a 23 de outubro, às 18h00, de “Heitor Nova My Human and I – Cartoons para sorrir de um gato que tinha um humano”, do ilustrador setubalense Zé Nova, mostra que inclui o lançamento de um livro e fica patente até 28 de novembro no Zé Nova Atelier.
Além de mais de uma dezena de exposições, a edição 2021 da Festa da Ilustração conta com várias atividades culturais, como uma sessão especial do ciclo Muito Cá de Casa dedicada ao certame com os convidados Marta Madureira e Jorge Silva, realizada a 1 de outubro, da Casa da Cultura.
O evento também traz música. Esta noite, às 21h30, defronte da Casa da Cultura, há um concerto com “Suave”; no dia 9, pelas 18h30, na Casa do Largo, atua Mynda Guerra.
Estão igualmente agendados três workshops, com a Casa d’Avenida a acolher, um deles, realizado esta tarde, a oficina de ilustração “Perdidos e Achados”, com Yara Kono e Maria Remédio.
Já a Casa do Largo recebe, a 9 de outubro e a 6 de novembro, às 10h30, respetivamente, oficinas de “Ilustração”, com Sofia Lobato, e “Colagens”, por Paula Moita, ambas do ciclo Workshop do Mês, enquanto na Casa da Cultura, a 9 de outubro, às 15h30, decorre uma atividade de ilustração para a infância pela Casa Invisível.
Outro dos destaques é a Feira da Festa, uma novidade no certame, a realizar ao longo de dois dias em A Gráfica – Centro de Criação Artística, com a participação de profissionais da área do design, a qual procura revelar e mostrar um género de bastidores da ilustração.
A Feira da Festa funciona a 16 de outubro das 15h00 às 21h00, dia em que há o evento “Tour de Force”, de Wagner e Tiago, às 21h00, enquanto a 17 está aberta das 15h00 às 20h00.
O espaço A Gráfica recebe ainda, no âmbito da programação da Festa da Ilustração, três sessões de um ciclo de cinema de animação, numa extensão do festival Indie Lisboa, a 17 e 31 de outubro e 7 de novembro, todas com início às 16h00.