Para algumas pessoas, as resoluções de ano novo são revigorantes e empreendedoras. Para outras, porém, serão absolutamente inúteis. Mas parece indiscutível que quase todos nós sentimos uma onda poderosa de esperança no futuro, que cresce à medida que tocam aquelas 12 badaladas, promovendo uma contagem decrescente para a passagem de um ano velho para um ano novo.
Esta é uma ótima época para nos encorajarmos, e para encorajar outras pessoas.
A cada começo de um novo ano faço questão de manter uma atitude positiva. Nos últimos, como neste, tem sido necessário um reforço da resiliência, fruto do “novo normal” a que temos estado sujeitos com a pandemia que atravessamos. Estes são, afinal, os nossos tempos gloriosamente imprevisíveis e devem, por isso, ser festejados com “dois punhos” bem cerrados.
Há coisas que me exortam, cada vez mais, a refletir acerca de se devemos optar pelo existencialismo, coisa "démodé" que ninguém valoriza e respeita, ou pelo hedonismo boémio. Afinal... pode faltar tão pouco.
Há dois anos atrás, poucas pessoas podiam prever o impacto dramático que a Covid-19 teria. A pandemia expôs as profundas desigualdades do mundo, mas mostrou também como estamos todos interligados, independentemente de onde vivemos. Esta crise demonstrou claramente o quão frágil é o sistema global e alerta para coisas que têm que ser mudadas.
Embora gostemos de nos considerar indivíduos, devemos reconhecer o impacto da cultura; herdamos a linguagem de pensamento que molda as nossas perceções e o nosso comportamento padronizado, inclusive sobre questões de família, amigos, fé e política. Através da inovação e da descoberta, as culturas evoluem para novas ideias e novas formas de pensar. É que estou farto de “macambúzios”. É cultural - respondem-me. Durante gerações, as subculturas e as histórias de vida ensinaram-nos a festejar o que a vida nos dá de bom. Independentemente do que resulta do balanço final de cada um, muitos movimentos juvenis do pós-guerra, dos 'Beatniks' aos 'Bikers', dos 'Mods' aos 'Rude Boys', ou dos 'Hippies' aos 'Ravers', foram determinantes na mudança social. E deveríamos tirar daí algumas ilações e ensinamentos para sairmos agora desta “guerra” que enfrentamos.
Enquanto a COVID-19 continua a ameaçar o nosso bem-estar, para mim parece-me sensato moderar o meu otimismo. Mas isso não significa que tenha que estar sempre de “pé atrás”, ou mesmo que tenha que ser pessimista. Lembremo-nos das palavras de João Lobo Antunes quando dizia que “o pessimismo é uma profecia que se cumpre”. Mas obrigo-me a escolhas e consequências, a significados e a ações. O sistema perfeito para um niilista assumido e estoico em construção.
Há ainda muito tempo de incertezas pela frente. E porque a incerteza nos deixa ansiosos e não felizes, aposto mais na resiliência e menos na felicidade. Na verdade, a felicidade depende, geralmente, de eventos externos, enquanto a resiliência é uma característica que podemos promover individualmente. Aumentar a resiliência não impede que coisas menos boas possam acontecer, mas ajuda-nos a recuperar melhor e mais depressa quando elas acontecem.
Muito do que referi prende-se com a minha própria ansiedade. Numa altura em que a incerteza, perigoso gatilho para os ansiosos, continuará a ser regra naquelas coisas que antes tinha como certas, ao invés de me deixar levar pela raiva, tento racionalizar e olhar de frente para os desafios, sejam estes bons ou menos bons. Normalmente mudo qualquer coisa, de forma sustentável, e desenvolvo novas rotinas em torno dessa mudança.
Outra coisa que aprendi ultimamente, foi a distinguir o que posso e não posso controlar. Ao invés de ficar obcecado por situações sobre as quais não tenho o poder de gerir, ou por pessoas que intransigentemente não alteram as suas ações ou atitudes, foco-me apenas no que posso controlar. Essencialmente, este foco deve ser sobre nós mesmos, nas nossas palavras, nas nossas ações e reações.
G. K. Chesterton, nas suas contribuições para o Daily News, disse que “o objeto de um Novo Ano não é que devamos ter um ano novo. É que tenhamos uma nova alma e um novo nariz; novos pés, uma nova coluna vertebral, novos ouvidos e novos olhos. Um homem particular não tomará nenhuma resolução a não ser que tenha decidido as suas resoluções de Ano Novo. A não ser que um homem comece fresco todas as coisas não fará nada efetivo, certamente. A não ser que um homem comece partindo da estranha assunção que nunca existiu antes, é quase certo que ele não existirá depois."
Decididamente, 2022 será para mim uma oportunidade para continuar a fazer mudanças reais e impactantes, com foco nos meus objetivos, desejos e necessidades, com metas e prazos realistas e marcos alcançáveis para mudanças maiores. E, já agora, evitando comprometimentos excessivos, nem que para isso tenha que aprender a dizer “não” mais vezes, ou seja, arriscar fazer o papel do vilão. Fazer do autocuidado uma prioridade e considerar o nosso bem-estar é fundamental. Afinal, cuidar de nós mesmos significa dar ao mundo o nosso melhor, em vez do que resta de nós.
Feliz Ano Novo - que 2022 seja um ano de resiliência!